domingo, 28 de novembro de 2010

Jornalistas cobrem operação no Complexo do Alemão sob tensão

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Enquanto as polícias fazem incursões pelo Complexo do Alemão, na Penha, zona norte do Rio, uma tropa de jornalistas está a postos para informar ao público sobre a operação. São correspondentes dos principais jornais, televisões e emissoras de rádio do País e do mundo, além de motoristas e auxiliares de câmera que trabalham, sem a devida infraestrutura por até 12 horas no local, sem rendição e alguns sem coletes à prova de balas.

Da agência de notícias francesa France Press, a jornalista Raha Bika, 28 anos, acompanha as operações policiais desde a ocupação da Vila Cruzeiro na última quinta-feira (25). É a primeira vez que ela trabalha em zona de conflito e conta que se surpreendeu com os jornalistas brasileiros usando coletes à prova de balas. “Eu sabia que o Brasil tinha problemas sociais, mas não imaginava que a situação era de guerra”, disse a jornalista em referência aos tanques da Marinha que dão apoio às operações.

O jornal Correio Braziliense, de Brasília, enviou na quinta-feira a repórter Renata Mariz, 30 anos, para o Rio de Janeiro. Depois de comprar um colete à prova de balas, Renata começou a acompanhar a situação no Complexo do Alemão, na Estrada do Itararé. Foi exatamente no dia em que o repórter fotográfico da Agência Reuteurs, Paulo Brandão Whitaker, 50 anos, foi ferido na sexta-feira (26) por uma bala perdida na entrada do Alemão, onde a polícia esperou até ontem (27) pela rendição dos traficantes.

“Claro que eu tenho medo. Já entrei em muita comunidade em Brasília. Mas lá é tudo plano. Aqui, você olha pra cima e não sabe onde o morro acaba. O tiro pode vir de qualquer lado”, afirmou Renata Maris.

Para Dario Dedoominicis, repórter fotográfico free lance (que trabalha por conta própria) italiano, a violência armada do Rio não é novidade. Ele disse que acompanhou disputas entre grupos mafiosos nas cidades de Nápoli e Sicília. O fotógrafo, no entanto, disse que ficou comovido com o desespero das famílias que deixaram suas casas ou que ficaram isoladas por causa do confronto.

O auxiliar cinematográfico de uma empresa de telejornalismo brasileira, que não quis se identificar, queixou-se das condições de trabalho. Ele disse que os jornalistas ficaram sem acesso a banheiros e alimentação ontem, quando nenhum estabelecimento comercial abriu. “Eu acho que as empresas deveriam oferecer rendição [substituição] para os profissionais ou melhores condições de trabalho”.